Zürcher Nachrichten - Medo e trauma: quando a queda deixa cicatrizes invisíveis

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Medo e trauma: quando a queda deixa cicatrizes invisíveis
Medo e trauma: quando a queda deixa cicatrizes invisíveis / foto: Joseph Prezioso - AFP

Medo e trauma: quando a queda deixa cicatrizes invisíveis

A queda e depois o medo que, às vezes, nunca desaparece: nos esportes de alto risco como esqui e ciclismo, os acidentes deixam cicatrizes profundas, não só físicas, mas também psicológicas, ao ponto de alguns atletas nunca mais recuperarem seu nível.

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Como subir novamente nos esquis, em uma bicicleta ou em uma moto depois de ter parado no hospital como ossos quebrados? Como voltar a ser competitivo, disposto a correr riscos para isso, depois de ter estado perto da morte? Vários atletas tiveram que se fazer essas perguntas após uma série de acidentes assustadores nos últimos anos.

Só no esqui alpino, a estrela americana Mikaela Shiffrin perfurou a pélvis, a tcheca Terez Nova está em coma induzido e o francês Cyprien Sarrazin sofreu uma grave concussão cerebral no final de dezembro em Bormio, na Itália.

Desde o início da temporada, praticamente não houve uma corrida em que algum participante não teve que ser levado de helicóptero a um hospital.

Depois de um acidente desta gravidade, o atleta inicia um longo processo de recuperação.

"Quando você cai a 130 km/h, isso deixa marcas na sua cabeça. Seria simplesmente mentir para si mesmo dizer que está tudo bem", confessa o esquiador francês Alexis Pinturault, que tem 34 vitórias em Copas do Mundo, durante uma entrevista à AFP no dia 22 de janeiro em Kitzbühel, na Áustria.

Dois dias depois, Pinturault sofreu uma queda no slalom gigante. O resultado: fratura do planalto tibial do joelho direito. A temporada, e talvez até sua carreira, acabou.

- 'Meu corpo dizia que não' -

O bicampeão mundial de esqui alpino combinado já havia abreviado sua temporada há um ano depois de romper o ligamento cruzado anterior do joelho esquerdo em Wengen (Suíça).

Ao voltar a esquiar, ele ainda sente que algo está errado, sente um medo: "Eu poderia correr mais riscos, mas tinha algo na minha cabeça que me segurava. Meu corpo dizia que não. Você tem que reaprender que tudo está sob controle, que dá para administrar. Necessariamente, isso leva tempo".

O ciclista belga Steff Cras também precisou de tempo para assimilar sua forte queda em abril do ano passado na Volta ao País Basco, a mesma prova em que estrelas como Remco Evenepoel e Jonas Vingegaard também sofreram graves acidentes.

"A 20 centímetros de distância, eu teria morrido", lembra Cras, explicando à AFP como desviou de um bloqueio de concreto a mais de 60 km/h.

As lesões foram graves. Um pneumotórax e fraturas nas costelas e vértebras o impediram de respirar por 30 segundos.

Quatro meses depois, ele encontrou forças para terminar em 16º no Tour de France, mas por um alto preço: "Pressionei meu corpo demais e tive que pagar. Desenvolvi herpes-zóster [doença produzida por uma reativação do vírus latente varicela-zóster]".

"A cabeça, estranhamente, estava bem. No entanto, fiquei muito marcado por outra queda quando me choquei com um espectador no Tour de France", em 2023. "Depois, mentalmente, estava morto. Tinha medo de rodar no pelotão com espectadores ao longo da estrada. Penso nisso até hoje".

- 'Desativar o fantasma' -

Para superar a ansiedade, Steff Cras procurou um psicólogo. "Também falo muito com a minha esposa. Para mim, isso é suficiente".

"Às vezes, o simples fato de detalhar o evento traumático pode ser suficiente", destaca Cécilia Delage, psicóloga esportiva que acompanha a campeã olímpica de esqui alpino Perrine Laffont.

Mas na maioria das vezes, esse "estresse pós-traumático" exige um trabalho psicológico mais profundo "para que o medo de se machucar novamente não supere o desejo de agir".

O risco de se instalar um círculo vicioso "e terminarmos com atletas que se lançam em uma descida a toda velocidade com travas" é o pior dos cenários.

"É como quando você dirige um carro na neve. Se você controla a condução sem usar os freios, vai chegar bem. Se, por outro lado, você freia de repente porque está com medo, vai sair da estrada", explica.

Existem várias técnicas, como a terapia 'EMDR' (Dessensibilização e Reprocessamento por Movimentos Oculares), para tratar o problema.

"Quando existe um trauma, significa que existe uma informação fantasma no cérebro que pode desviar a direção. A 100 km/h, isso rapidamente se torna perigoso. É preciso desativar esse fantasma", explica Fabien Deloche, treinador mental francês que trabalha com esquiadores e ciclistas profissionais.

- 'Medo de morrer' -

O objetivo não é eliminar o medo, e sim transformá-lo. "Se você desconectar o medo, você desconecta a prevenção. Então é preciso reconfigurá-lo e usá-lo para aumentar a atenção e a conexão consigo mesmo", continua Deloche.

Muitos atletas também recorrem à hipnose. Alexis Pinturault considerou a possibilidade. "Acabei indo ver um médico que trabalha o sistema nervoso autônomo, em resumo, a memória muscular. Fizemos exercícios em estado de repouso, um pouco de meditação. O objetivo é 'ressincronizar' o corpo com o cérebro para retomar o controle sobre o trauma".

Cécilia Delage reitera que é necessário "compreender a relação que a pessoa tem como o medo, o risco e, portanto, com a morte". E para isso, às vezes é preciso voltar "muito longe, até o parto, que talvez tenha tido algo errado".

"Tive um caso em que o atleta tinha muito medo de sofrer um traumatismo craniano e não entendia o motivo. Depois de meia dúzia de sessões, ele teve um flash, Lembrou que, quando criança, tinha batido a cabeça em uma pedra no mar e achou que ia morrer. É uma lembrança que havia esquecido por completo. A prática do esporte reativou seu medo de morrer", relata a psicóloga.

Quando a origem do medo é identificada e tratada, é possível começar um trabalho de preparação mental, baseado principalmente na visualização.

O ciclista espanhol Enric Mas, que pelo trauma de três quedas seguidas não conseguia voltar a praticar o esporte, "saiu do buraco" graças à ajuda de um psicólogo e um treinador específico que o fizeram descer estradas em Andorra durante todo o verão.

- 'Cansado de bancar o durão' -

Antoine Dénériaz, campeão olímpico de esqui downhill em 2006, nunca se recuperou da queda que sofreu em Are, na Suécia, apenas três semanas depois de sua maior conquista.

Quando acordou no hospital, estava com "muito medo". Começa então um calvário, corridas disputadas "com o freio de mão puxado", um "estresse permanente" que às vezes faz você "chorar no meio de uma refeição".

"Exausto", Dénériaz encerrou sua carreira um ano depois.

O ciclista Pierre Latour, de 31 anos, também está pensando em se aposentar. "Morro de medo" das descidas, reconhece o corredor da equipe TotalEnergies, desde que sofreu uma forte queda em 2019.

Latour tentou de tudo: psicólogo, hipnólogo, treinador mental, EMDR, treinador de descida, e inclusive um curandeiro. Nada funciona.

"Você se sente bem durante um tempo, mas ao menor contratempo, tudo explode na cabeça, como um alcoólatra que volta a tomar uma dose", explicou o ciclista ao jornal Le Parisien em 2023.

"Cada um é diferente", resume Fabien Deloche. "Existem os que integraram perfeitamente o risco. Outros vão decidir que não podem mais aguentar esse estresse. Eles dizem: 'Vim para me divertir com os amigos e me pego morrendo de medo todos os dias. Estou cansado de bancar o durão'".

As razões da persistência do bloqueio podem ser múltiplas. Talvez o atendimento psicológico tenha chegado tarde demais e o problema se tornou algo como "uma fratura que não cicatriza, que se consolida como pode e depois incomoda por toda a vida", diz Cécilia Delage.

Às vezes o atleta desenvolve resistências, acrescenta a psicóloga: "Quando eles sentem que estamos entrando em um terreno muito escorregadio, que vai deixá-los transtornados, eles fecham tudo, como um mecanismo de defesa psicológica".

- 'Autossabotagem' -

"Geralmente, eles buscam soluções alternativas como acupuntura ou sofrologia. Mas isso não vai resolver a raiz do problema".

Principalmente porque os gatilhos às vezes são muito íntimos: "Ao explorar o acidente, percebemos que pode haver uma autossabotagem. Tive um ciclista cujo medo não era tanto de se machucar, mas de ser repreendido pelo pai, que gritava com ele: 'Você fez alguma coisa estúpida de novo?'. O trauma às vezes não está onde você pensa que está".

Nos esportes automotivos também, a velocidade e o perigo fazem parte da vida cotidiana dos pilotos.

"Temos consciência do perigo desde muito cedo", explica o piloto australiano de Fórmula 1 Daniel Ricciardo.

"Mas nosso esporte também se tornou muito mais seguro ao longo dos anos", acrescenta, fazendo referência à introdução do 'halo' (sistema de proteção do cockpit) em 2018.

Esta barra de titânio, colocada sobre a cabeça dos pilotos, salvou o francês Romain Grosjean em 2020, quando seu carro bateu no 'guard rail' antes de pegar fogo.

Em um carro, estamos em uma célula de segurança" bem protegida, conta à AFP o piloto de rali Adrien Fourmaux.

Entusiasta do ciclismo downhill desde a infância, ele preferiu escolher o rali, que é "menos perigoso".

Inspirados nos esportes automotivos, o esqui e o ciclismo trabalham para melhorar a segurança, principalmente com airbags, e entrar em uma dinâmica virtuosa: menos quedas, menos ferimentos. E menos medo.

R.Schmid--NZN