Macron enfrenta pressão para adiar assinatura de acordo UE-Mercosul
O presidente Emmanuel Macron enfrenta uma pressão crescente na França para adiar a assinatura, nesta semana, do acordo comercial entre a União Europeia (UE) e o Mercosul, em meio a protestos agrícolas, resoluções parlamentares e pedidos de boicote de produtos sul-americanos.
A Comissão Europeia fechou neste mês o acordo com Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai, que começou a ser negociado em 1999.
A presidente da Comissão, braço executivo da UE, Ursula von der Leyen, quer assinar o documento no próximo sábado, durante a reunião de cúpula do Mercosul na cidade de Foz do Iguaçu. Para isso, ela precisa da aprovação do Conselho Europeu, que representa os 27 países do bloco.
Sob pressão do seu setor agrícola, e em um contexto já tenso devido ao gerenciamento da dermatose nodular, uma doença bovina, a França tenta adiar para 2026 essa votação crucial.
"Temos que dizer não, porque a sobrevivência da nossa agricultura está em jogo e, consequentemente, a soberania do nosso país", advertiu, nesta terça-feira (16), a líder da extrema direita, Marine Le Pen, que lidera o principal partido de oposição.
A assinatura poderia causar uma tempestade no setor agropecuário da França, cujos agricultores protestam desde o fim de semana contra a política de abate de todo um rebanho quando se detecta um caso de dermatose nodular. A isso se soma o mal-estar com o Mercosul e com a reforma da Política Agrícola Comum (PAC), que inclui as ajudas diretas aos agricultores europeus.
"Esse acordo é o fim da agricultura francesa", disse à AFP Vincent Thoumieux, membro do sindicato Jovens Agricultores, durante o bloqueio parcial de uma estrada na região de Paris.
Os agricultores franceses temem o impacto de uma entrada maciça na Europa de carne, arroz, mel e soja sul-americanos, vistos como mais competitivos devido às suas normas de produção, em troca da exportação de veículos e máquinas para o Mercosul.
"Não compraremos produtos da América do Sul a partir do momento em que houver produtos franceses equivalentes", alertou hoje Dominique Schelcher, presidente-executivo da Coopératives U, quarta maior rede varejista da França.
- Exigências não atendidas -
Desde o acordo fechado em Montevidéu, a França tenta formar uma minoria de bloqueio no Conselho Europeu para impedir a sua adoção e introduzir medidas que protejam seu setor agrícola. De concreto, Paris pede uma "cláusula de salvaguarda" em caso de perturbação do mercado, "medidas-espelho" para que os produtos importados sigam as normas ambientais e sanitárias da UE, e controles sanitários reforçados.
O Parlamento Europeu aprovou hoje várias medidas de proteção, como a aplicação de tarifas em caso de desestabilização do mercado, que deverá negociar com os representantes dos países europeus para chegar a um acordo final.
Em junho, durante visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a Paris, Macron disse que estava disposto a assinar o acordo neste ano caso suas exigências fossem atendidas. Mas ele ainda não considera as medidas anunciadas por Bruxelas suficientes.
"As exigências francesas não foram atendidas", disse no último domingo uma fonte do entorno de Macron, ao anunciar que o líder da segunda maior economia da UE havia pedido a Ursula von der Leyen o adiamento da votação e da assinatura do acordo.
A Alemanha, maior economia do bloco, e a Espanha, quarta maior, pressionam pela adoção nesta semana do acordo, que criaria a maior área de livre-comércio do mundo, com 700 milhões de consumidores. Todas as atenções estão voltadas para o que fará a Itália, terceira maior economia do bloco.
Se o acordo for assinado, "será um fracasso" para Macron, comentou uma ministra. Isso criará "um mal-entendido absoluto entre os franceses e a UE", no momento em que a desconfiança já é recorde, advertiu.
Durante um debate com críticas à "ambiguidade" do presidente, o Senado francês aprovou hoje uma resolução em que pede que o governo leve o processo de adoção do Mercosul à Justiça europeia. Deputados da esquerda radical e da extrema direita pediram que o governo deixe de contribuir para o orçamento da UE caso o acordo comercial seja assinado.
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M.J.Baumann--NZN